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  • Foto do escritorMarina Cappai Santos

Como Avaliamos na Educação Cristã Clássica

Atualizado: 12 de jun. de 2023

Concordamos que provas, testes e avaliações são uma etapa importante na educação de nossos filhos, mas quando pensamos em quantificar o conhecimento aprendido, a única forma que encontramos em nosso sistema educacional é o tão famoso “método do professor preguiçoso”, do qual somos fruto. Nele as opções de medida são parcas, geralmente em forma de avaliação de papel, cheia de armadilhas e, com o avanço da tecnologia, já encontramos escolas que avaliam a performance dos alunos através de jogos interativos que valem pontos na nota final. No fim deste processo, nós pais recebemos um boletim que por si só é difícil decifrar. O que foi avaliado? Qual o progresso do meu filho? Conseguimos perceber as particularidades do aluno em questão? Por que as avaliações devem causar tanta insegurança e ansiedade? Porque o aluno deveria sentir que o teste é feito de armadilhas, como se o professor estivesse apenas procurando uma maneira de reprová-lo, ao invés de encontrar uma maneira de salvá-lo? Diante de tantas indagações, precisamos buscar respostas que satisfaçam o querer compreender qual o real desenvolvimento dos nossos filhos.


Estudando a educação ao longo da história, descobrimos que escolas não são instituições modernas, mas milenares. No mundo antigo por exemplo, apontando para os hebreus, a educação era agrária e tendia a informalidade, mas durante o exílio, 538 a. c., os hebreus se depararam com as escolas babilônicas de alto nível e reconheceram a importância cultural que tinham naquela terra e como estas instituições poderiam ser adaptadas aos interesses do seu povo e moldar e cultivar sua cultura em uma terra estranha. A sinagoga começou a se desenvolver no exílio, em parte como um meio de manter a identidade cultural. Em algum momento próximo ao século III a. c. essa instituição se desenvolveu e dentro dela crianças aprendiam a ler e escrever e a entender partes simples da lei. Paulo é um exemplo dessas escolas, a bíblia diz que ele era aluno de Gamaliel, mestre dos judeus. Na era medieval surgiriam as escolas monásticas que se concentravam na formação de sacerdotes e membros das cortes reais. Nestas escolas a formação básica consistia em artes liberais e filosofia, sempre a serviço da teologia.


No Mundo Antigo e parte da era Medieval, não havia provas nem testes escritos, a educação era fundamentalmente memorial (conhecimento armazenado na memória) e as recomendações dos professores eram seguidas para o aperfeiçoamento do aluno. O ensino era baseado na memória do professor e aluno; a tradição, cultura e conhecimento eram basicamente transmitidos oralmente, e quem por algum motivo tinha acesso a livros ou pergaminhos (algo muito raro na época) ainda assim os memorizava. O papel do professor diante de seus pupilos era de mentoria e suporte na busca pela verdade, onde o educador trabalhava as diversas áreas do conhecimento – as 7 Artes Liberais – e ao mesmo tempo desenvolvia as limitações e dificuldades de seus alunos. Na Renascença, época da fundação das primeiras universidades, as avaliações e testes eram feitas ao final dos estudos (assim como os TCCs e defesa de teses hoje em dia) e o aluno se aprovado, saía apto a desempenhar seu papel na sociedade de acordo com a linha de estudos escolhida. Em todo esse tempo, não existiam sistemas de classificação, provas, notas e boletins; a recomendação de um professor era o atestado de que o aluno estava apto para exercer o conhecimento recebido.


Após 1782, quando as escolas e universidades começaram a receber mais alunos, e com o crescimento da ciência newtoniana que é mais facilmente examinada através da escrita, o professor de química, William Farish instituiu a avaliação de seus alunos desta forma: provas, e implementou notas por meio de uma escala numérica. A partir daí, essa forma de avaliação aos poucos foi absorvida pelas academias e escolas ao redor da Europa e América, pois avalia em massa e é uma opção para todas as áreas do conhecimento, com o objetivo de quantificar o aprendizado e nivelar o conhecimento dos grupos estudantis, deixando de lado o progresso individual de cada um e o que de fato é importante que o aluno aprenda.


Hoje, as notas podem ser vistas como uma língua franca, simplista, mas necessária para a comunicação entre as instituições escolares e para classificar alunos onde há escassez de “estrelas de ouro”. Precisamos pensar se essa nova linguagem é realmente adequada e se ela carrega o significado que ela deveria ter.


Nosso desafio não é criar um método ou sistema avaliativo inovador, mas voltar à forma e objetivos da educação, pois as avaliações não devem gerar ansiedade e nem o aluno sentir tanta insegurança neste momento. Os testes devem ser feitos com o objetivo de encontrar lacunas que devem ser preenchidas e dúvidas que devem ser sanadas, demonstrando que o professor não procura uma maneira de reprová-lo, mas sim uma maneira de salvá-lo. Precisamos ainda verificar se o sistema de notas viola o constante aviso de Aristóteles quando diz que nós não devemos esperar ou exigir o mesmo tipo de precisão em todos os campos do conhecimento.


Podemos cair no erro de pensar que somente escolas de Ensino Fundamental utilizam avaliações para testar os alunos, mas em muitas instituições, as avaliações são feitas desde o ensino infantil com o desejo de treinar a ansiedade e a participação desde cedo dos alunos em testes e avaliações posteriores. Não há indicações ao longo da história de que o sistema avaliativo tem uma função pedagógica para melhorar seu aprendizado e sim de preparar o estudante para guardar o conhecimento até o dia da prova.


Se avaliações são necessárias na realidade educacional, precisamos encontrar uma que celebre aquilo que nossos filhos sabem e todo o trabalho duro que colocaram em seus estudos. Precisamos encontrar uma que mostre o que eles não sabem, mas de uma forma que os encoraje a continuar estudando e aprendendo. Dê-nos uma que seja interessante, os provoque-os a fazerem perguntas e desperte sua curiosidade. Não queremos analisar textos de jornais baratos e sim excertos de livros que valorizem todo o empenho acadêmico, afinal as avaliações e testes deveriam abençoar, honrar, encorajar e cultivar o amor do estudante pelo conhecimento, ela deveria produzir deleite e satisfação e ser um guia para estudos posteriores.


Como Escola Clássica, nosso desejo não é quantificar o conhecimento dos nossos alunos, mas reconhecer as habilidades adquiridas e quais ainda devem ser trabalhadas para seu próprio desenvolvimento. Desejamos abençoá-los com testes objetivos e previsíveis, demonstrando o que realmente é importante que saibam e guardem em sua memória, pois todo o processo educacional é litúrgico e formativo. Inclusive as avaliações que são aplicadas moldam os corações para a virtude ou para o vício. Desejamos avaliar seu desenvolvimento e aprendizado comparando o aluno com ele mesmo em primeiro lugar, desejando entender onde ele estava e qual foi seu progresso para, em seguida, compará-lo com seus pares. E antes de mais nada, reconheceremos o seu próprio desenvolvimento, seu esforço e superação no desenvolvimento de habilidades em áreas anteriormente difíceis para ele mesmo, mas que foram superadas. Só assim poderemos contemplar seu progresso acadêmico.


Assumimos que cada um de nós foi criado a imagem e semelhança de um criador perfeito e que somos diferentes em dons, aptidões e áreas de interesse e isso nos ajuda a entender que não seremos excelentes em todas as áreas, mas que desenvolveremos todas elas com a graça do Senhor, e nossas avaliações, muito além de simplesmente quantificar um conhecimento, é uma ferramenta para o crescimento dos nossos alunos.



Marina Cappai

Pedagoga e Especialista em Educação Cristã Clássica


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